Pego trem.
Tenho um podcast.
Trabalho pela minha igreja.
Gosto de entrar no twitter (guilty pleasure).
Assisti a segunda temporada de uma série cancelada na Netflix.
Parecem uma série de coisas desconexas e sem sentido, desordenadas e sem correlação. É proposital. E talvez você não entenda ao acabar de ler esse texto, nem eu sei por onde começar.
Por esses dias, minha esperança na humanidade se renovou. Entro no twitter, e um compartilhamento de um texto belo do Luide, do blog Amigos do Fórum, que você pode ler aqui. Seu Nilson Izaias "papinho" com seus vídeos singelos, tomando café e tentando fazer slime, motivados pela solidão que nossa geração dá como prêmio aos tantos idosos que lutam por suas famílias por toda a vida, o abandono inconsequente e a falta de respeito. Mas por um momento a internet pareceu se mobilizar e o canal desse senhor, virou um fenômeno, ameaçando a hegemonia do "em alta" no Youtube, monopolizada por Influencers de investimento milionário ou canais de conteúdo pirata. De repente, um vovozinho com videos simples e sem edição rouba o posto deles.
Em um dia, eu descobri o que era o "slime", que era uma onda, e o Seu Nilson. Acordo na outra manhã, e ele é um homem odiado. Coisa motivada por prints duvidosos e Webcelebridades colocando lenha na fogueira. A motivação de tudo? Política. Óbvio. Perguntaram em um dos videos qual teria sido o voto do vovozinho, e pronto, bastou para dar credibilidade aos boatos de pedófilo, que teriam fundamentação na playlist de videos de curtidas do Nilson. Crianças dançando na piscina, senhoras que tem canais pequenos, todos que haviam se inscrito no canal dele. E de repente, minhas esperanças, as boas notícias, vão embora tão rápido quanto chegaram. A maioria das pessoas está acostumada a essa modernidade líquida. Pois não estou.
O fato engraçado, é que tudo isso, de alguma forma tem correlação direta com o que se passou na minha vida pessoal esses dias. Descobri que algo que eu desejo ardentemente, e consegui por "parecer ser bom para a função", está sendo impedido por conta de um boato. Sim, a pessoa que me investiu de poder, agora me retira o mesmo, simplesmente por algo que ouviu de outra pessoa, e não se dá o trabalho de investigar, ou sequer me indagar sobre o assunto. Já assume como verdade. Se por um lado, a acusação de que sofro não é sequer relevante para as leis humanas, como a de que o Seu Nilson sofre, é igualmente injusta e pesada, pois é de matéria de fé. E igualmente frágil e infundada. Mas a questão aqui não é me defender ou ao Seu Izaias, a ideia do texto é outra. Refletir sobre como estamos predispostos a julgar o outro que confronta nossa realidade, apenas para reafirmar nossas certezas.
Vivemos uma época em que Foucault teria orgulho, uma época em que a verdade não existe. Não há busca por ela, não há certeza dela, não há interesse na realidade. A narrativa tem primazia sobre os fatos. Nossa sociedade tem um eterno complexo de superioridade, motivado pela ideia de que nossas vidas são filmes e o que importa não é o factual, mas como enxergamos, quem 'ganha' tem o poder de alterar a história a seu bel-prazer. Risco alto que decidimos assumir, e as redes sociais são palco dessa conjuntura. O catalizador de tudo, são as chamadas "ideologias políticas". Você escolhe um lado, e compra tudo o que ele vende. A verdade só vale para quem está nele. Quem é seu oposto, ganha uma predisposição para a desconfiança, julgamento, assassinato de reputações e calúnias. Não importa se os boatos são reais, o que importa é se a narrativa parece real. Se faz sentido, ainda que seja dentro do esteriótipo e espantalho que fazemos do outro.
Parece que regredimos como sociedade, voltamos à época do medievo. Antes que surgissem os primeiros tribunais, bastava uma acusação, um boato, para que a população se enfurecesse e ela mesma fosse juiz e executor, condenando o acusado, descontando toda a raiva e repressão: quanto mais pobre e desigual o feudo, maior era a sede de sangue e os requintes de crueldade. Ao passo que os estudiosos em direito, cada vez mais rumam para questões sobre a confiabilidade de uma testemunha como prova, e seu peso num processo judicial, já que a neurociência aponta como a memória é falha e de baixa confiabilidade, o coletivo rejeita tais avanços, e levanta, dia após dia, heróis de suas ideologias. Não há debate. A sede de justiça que temos -O Brasil é um país totalmente desigual- deu lugar ao desejo de privilégios. "Que nós triunfemos, e que os outros queimem". Não existe espaço para ouvir o outro. Odiamos as diferenças, quando fundamentalmente são elas que nos tornam iguais.
Eu assisti esses dias, depois de bastante postergar, a segunda temporada de Dirk Gently's, na Netflix. Excelente. Confusa, e por isso é tão boa. Mas a filosofia que marca a narrativa, dessa série excelente que foi cancelada é que não podemos controlar o fluxo das coisas. A criação se move. "O acaso e o destino não são mutuamente excludentes". As coisas vão acontecer, e vão se conectar, ainda que pareçam desconexas, e entender como elas se relacionam não é importante, mas o que aprendemos com elas que é.
Dia após dia, eu luto por isso. Entender qual a mensagem de tudo isso, qual a lição, onde crescer.
Parece que nos esquecemos disso.
São tristes dias pra quem espera o melhor da humanidade.
Aguardando dias melhores.
Como sou comprometido com FATOS, deixo abaixo links que confirmam toda a história do Seu Nilson, que as acusações são falsas e motivadas por política e que ele é inocente (até então).
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